E, por causa dela:
"Na última terça-feira fui à feira vender tralha, coisas do arco da velha que tinha para aqui a ocupar espaço e que não interessam nem ao menino Jesus, livralhada, presentes para esquecer que me foram oferecidos no Natal, enfim, bugigangas. Montei escritório junto ao gradeamento do jardim de Santa Clara, mesmo em frente à esplanada do café Panteão e ao Tribunal Militar. Instalei-me ao lado do João Vinagre, um dos vendedores mais batidos da Feira e, simultaneamente, empreiteiro da construção civil. Tratei de puxar conversa, o que não foi muito difícil. Ainda não tinha acabado a primeira frase e já ele tinha desatado a falar. Levantou-se pouco depois da cadeira, branca e de plástico como as das esplanadas, dirigiu-se à carrinha estacionada em frente, enfiou a mão no bolso de dentro do casaco e deu-me um cartão. Quando não está na feira remodela apartamentos, repara telhados, afaga soalhos, aplica flutuantes, faz envernizamentos, tectos falsos, estuques, pinturas, vidros duplos, divisórias, resguardos para banheiras e polibans, conserta estores, marquises, etc. Faz orçamentos grátis e pode-se pagar em prestações. É possível que já tenham ouvido falar dele: o Vinagre é um daqueles jeitosos que invade as nossas caixas de correio com papéis de publicidade. E é também uma das pessoas mais conhecidas da Feira da Ladra. Aliás, o Vinagre é a própria Feira da Ladra. "