sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Boião matinalíssimo, desta vez porque vou para Este


Vai sendo tempo de

GABARDINES

Eu escolheria esta:

Brigitte Bardot and Marcello Mastroianni on the set of the film Vie Privée

Escolham a vossa aqui: http://todayspictures.slate.com

É também tempo de
DOÇURA


De que fala este livro?
Para os muito curiosos, um bocadinho da introdução:


E
TRAVESSURA

A Neusa Henriques lembrou-me que este fim de semana,
nalguns sítios, se comemora o Dia das Bruxas.
E eu lembrei-me de uma coisa sinistra:


O CORVO

Numa meia-noite agreste, quando eu
lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências
ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que
parecia
O som de alguém que batia
levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está
batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.»

Ah, que bem disso me lembro! Era no
frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia
sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a
noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje
entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes
celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada
reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores
nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força,
eu ia repetindo,
«É uma visita pedindo entrada aqui
em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em
meus umbrais.
É só isso e nada mais»

E, mais forte num instante, já nem
tardo ou hesitante,
«Senhor», eu disse, «ou senhora,
decerto me desculpais;
Mas eu ia batendo, batendo por
meus umbrais,
Que mal ouvi...» E abri largos,
franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei
perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os
ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz
profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome
cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse
aos meus ais.
Isto só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a
alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som
batendo mais e mais.
«Por certo», disse eu, «aquela bulha
é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que
são estes sinais.»
Meu coração se distraía pesquisando
estes sinais.
«É o vento, e nada mais.»

Abri então a vidraça, e eis que, com
muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos
bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não
parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou
sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por
sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir
minha amargura
Com o solene decoro de seus ares
rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu,
«mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas
infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas
trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».

Pasmei de ouvir este raro pássaro
falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem
palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém
terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos
seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há
por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».

Mas o corvo, sobre o busto, nada
mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma
lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento faz, e
eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, «Amigo,
sonhos - mortais
Todos - todos lá se foram. Amanhã
também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».

A alma súbita movida por frase tão
bem cabida,
«Por certo», disse eu, «são estas
vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a
desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se
quebou de ais,
E o bordão de desesp'rança de seu
canto cheio de ais.
Era este «Nunca mais».

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir
a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo
busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de
muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos
maus tempos ancestrais
Esta ave negra e agoureira dos
maus tempos ancestrais
Com aquele «Nunca mais».

Comigo isto discorrendo, mas nem
sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os
olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça
reclinando
No veludo onde a luz punha vagas
sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as
sombras desiguais,
Reclinar-se-à nunca mais!

Fez-me então o ar mais denso, como
cheio de incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos
soam musicais.
«Maldito!», a mim disse, «deu-te
Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o,
esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que
faz esses teus ais!»
Disse o corvo , «Nunca mais».

«Profeta», disse eu, «profeta - ou
demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos
fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no
Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes
celestiais,
Essa cuja nome sabem as hostes
celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Que esse grito nos aparte, ave ou
diabo!, eu disse. «Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna
às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira
que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de
meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

E o corvo, na noite infinda, está
ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por
sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um
demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra
no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no
chão há mais e mais,
Libertar-se-à...nunca mais!

Edgar Allan Poe, consta que traduzido por Fernando Pessoa.

No original, com som e tudo:



Outras coisas:

O Tchekoff de hoje é este
ROMANCE SENSACIONAL


EXPRESSO

Uma das poucas páginas do Expresso onde me demoro mais
é a página de Rui Ochôa, na Revista


Porque fala de um tempo que é nosso (mas em que eu era pequenina)
e conta-o de uma forma simples, transformando-o em História:




Outra
REVOLUÇÃO
Num jornal de fim de semana apanhei esta fotografia:

Na sexta feira, uma mulher chora, num cemitério de Budapeste
familiares mortos na revolta de 1956 contra os soviéticos.

Sobre a revolução húngara:

"The 1956 Hungarian Revolution was the first tear in the Iron Curtain."


E sobre o que a Hungria hoje recorda:


Na mesma página do dito jornal, um pouco mais abaixo,
é recordado um facto que os que morreram em Budapeste em 1956
por certo gostariam de saber:



Podem mandar as vossas fotografias:

Mais um
ANIVERSÁRIO
50 Anos


Eu, por exemplo gostava de ver esta exposição:


Este é outro
ANIVERSÁRIO
Que comemoro com gosto



Nós também lá estamos:


MÚSICA
na



Outra
MÚSICA
Lembrada pelo José Eduardo Martins

Datas e sítios aqui: blitz
E música aqui: http://www.youtube.com

UM ORIGINAL


Acha que estudar é útil porque se vale o que se sabe


E sabendo o que sabe, pensa isto:


É tal e qual o que eu penso.
Só que eu não estudei o que ele estudou nem sei o que ele sabe.
Mas agora posso fingir que sim.
(zeliger, remember?)

Um
LIVRO
da maior utilidade para todos e todas
e que encontrei à venda na Livraria Sá da Costa


A Inês Sequeira Mendes
Manda-nos as habituais notícias dos
MUSEUS DA POLITÉCNICA


Tirei esta fotografia da Faculdade de Ciências daqui:

Vejam o sítio porque é um projecto interessante.


A Inês, sugere um
CURSO DE XADREZ


Vieira da Silva
Um bom pretexto para um dos poemas
de Jorge Luis Borges de que mais gosto:

Ajedrez
En su grave rincón, los jugadores
rigen las lentas piezas. El tablero
los demora hasta el alba en su severo
ámbito en que se odian dos colores.
Adentro irradian mágicos rigores
las formas: torre homérica, ligero
caballo, armada reina, rey postrero,
oblicuo alfil y poenos agresores.
Cuando los jugadores se hayan ido,
cuando el tiempo los haya consumido,
ciertamente no habrá cesado el rito.
En el Oriente se encendió esta guerra
cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el otro, este juego es infinito.
II
Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
reina, torre directa y peón ladino
sobre lo negro y blanco del camino
buscan y libran su batalla armada.
No saben que la mano señalada
del jugador gobierna su destino,
no saben que un rigor adamantino
sujeta su albedrío y su jornada.
También el jugador es prisionero
(la sentencia es de Omar) de otro tablero
de negras noches y blancos días.
Dios mueve al jugador, y éste, la pieza.
Qué Dios detrás de Dios la trama empieza
de polvo y tiempo y sueño y agonías?

ISTO ESTÁ TUDO LIGADO
Depois da Revolução Húngara e antes da queda do Muro
uma arma da Guerra Fria:


Tirada daqui:



Bom, é chegado o tempo das castanhas, vamos a elas:


Estas, encontrei-as por aqui:


Bom fim de semana!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Esta, foi uma semana Sereníssima

Iremos dando notícias dela nas próximas semanas, quando os livros estiverem
lidos e arrumados
e o som das águas da laguna e dos canais já se tiver transformado em palavras.


Entretanto:

Uma coisa tão boa que etá custa a acreditar que seja gratuita:


Escolhi este

Que se pode ler aqui: dialogosobreamor


UM LIVRO
Que já está no Boião, mas a belíssima capa deste exemplar
merece a repetição. Como merece repetição o próprio livro, claro.


UMA CITAÇÃO

"Cada vida é
uma enciclopédia,
um inventário de
objectos, um
catálogo de estilos,
onde tudo pode ser
continuamente
remexido e reordenado
de todas as
maneiras possíveis."


Quem me lembrou esta fotografia que tirei em Serralves


"Inventário dos objectos que pertenceram a uma senhora idosa de Baden Baden"

A citação, tirei-a deste blogue http://anaturezadomal.blogspot.com/

Por falar em "senhora idosa"

MULHERES DE HOJE
"It's no longer a
man's world.
Nor is it a
woman's nation.
It's a
cooperative,
with bylaws
under constant
negotiation and
expectations that
profits be
equally shared"

Conclusão tirada daqui:



Uma boa notícia
Outra boa notícia

No meio de muitos números que mostram a revolução silenciosa:



UM FILME
Sugerido pela Ana Paula Paiva

Andando, de Hirokazu Koreeda


UMA CASA




Onde se pode ouvir



CORPORATE GOVERNANCE
Em 1959

Encontrado na Livraria Sá da Costa



MÚSICA

A Marta Soares Correia sugere
uma talentosa pianista na Casa da Música:

Lise de la Salle em "Mozart: Concerto para piano"
com a Orquestra Nacional do Porto


No programa, uma das minhas músicas preferidas: http://www.youtube.com


COISAS PEQUENAS
Uma sugestão da Neusa Henriques


FOTOGRAFIA

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Fotografias de Jorge Molder
Na Gulbenkian, a não perder.

AMBIENTE
Espera-se que bom

Também na Fundação Gulbenkian




A Fundação Gulbenkian, esta semana,
tem grande destaque no Boião,
mas merece:




UM POEMA

(por mim, o Boião desta semana podia ser só este poema,
mas o Boião não é só meu...)

How Do I Love Thee? (Sonnet 43)

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right.
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
With a love I seemed to lose
With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.


Esta é uma boa altura para passar na praia

E apanhar conchas. Estas, apanhei-as há uns anos, numa praia a Norte.
Bom fim de semana