domingo, 13 de junho de 2010


Saio de Lisboa, andam-se duas horas e meia, três horas. Mesmo no fim, passa-se um túnel e, do outro lado, o espanto pelas montanhas e pelos vales e pela imensidão de verde. Chega-se à pequena cidade de que me lembro de quando, miúdos, os meus pais (que não precisavam de instruções do Presidente da República para fazer férias em Portugal, iam porque gostavam de nos mostrar a terra onde vivemos, porque não havia dinheiro para viagens mais longas e porque só se pedia dinheiro emprestado para aquilo de que se precisava mesmo) nos levaram a todos os cantos e recantos do país.
E a cidade lá está, quase igual. Quase. Está mais velha, também ela. As plásticas não correram bem, como quase sempre acontece. As “plásticas” são mais um dos inenarráveis mostrengos com que a Caixa Geral de Depósitos presenteou Portugal de lés a lés (fotografia, nem pensar, quanto mais escondidas melhor) e o shopping.
Sossego quando me sento na velha praça. Se ficar no sítio certo, não vejo o mostrengo, vejo as pessoas que passam e se cumprimentam umas às outras e oiço a sino a marcar as horas.
Depois, a triste sensação de que o tempo, ali, parou.

Ah, mas não és tu que gostas dos “antigos”? Sou, mas para os antigos o tempo não pára. Os antigos são sempre novos.
Como as cerejeiras. Estas que agora vemos são as mesmas de sempre como é o mesmo de sempre o espanto quando as vemos e o gosto com que nos sentamos todos a comê-las, umas atrás das outras, em moto contínuo.

São só duas horas e meia de distância.

Porque é que deixamos o tempo parar?

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